segunda-feira, 1 de junho de 2009

Km de vantagens por m de serra...


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Obra estruturante, única e fundamental, configura o derradeiro salto que se impõe sobre aquilo que é muito mais do que uma simples barreira física, materializando um obstáculo mental e cultural profundo entre populações próximas geograficamente, mas em lados opostos, visão-impasse semelhante a uma verdadeira guerra de trincheiras...
Mas é a uma escala mais alargada - a do próprio território nacional e ibérico - que se deve situar uma intervenção que une mais que pessoas e lugares, ao colocar no mesmo caminho locais e recursos nunca antes relacionados entre si. Trata-se de um verdadeiro instrumento de Coesão entre Litoral e Interior profundo, vencendo-se um passado estrategicamente falhado em análise territorial ao transformar, à luz das necessidades e oportunidades actuais, um projecto com mais de 100 anos.
E se nunca fez sentido inundar um Parque Natural com pessoas e automóveis, muito menos haveria hoje espaço para esta aparente “solução”. Propõe-se assim uma reavaliação total da ideia em torno de estradas na Serra da Estrela, pela sua conversão em caminhos de ferro. É bom lembrar a sintonia que se estabelece com aquilo que é a tendência um pouco por todo o lado, excepto Portugal, onde não só não se acrescentou linha férrea em todos estes anos como se eliminou, lamentavelmente.
Vantagens existem também em termos de custos de construção/exploração/conservação/segurança/ambiente com esta opção.

A UE possui mecanismos financeiros específicos para zonas periféricas afectadas por acidentes naturais, de modo a contrariarem-se lógicas de escassez e isolamento, características essas que passam a jogar um papel determinante para a valorização local, dada a riqueza que constitui em si mesmo o património natural intacto. Torna-se consequentemente evidente que, qualquer outra acção que faça perigar este potencial terá efeitos contrários e extremamente perversos, o que se destaca com particular ênfase. A criação de um Geopark na Serra da Estrela ou a reintrodução de espécies, há muito miragens, passariam a realidades viáveis.

Enquanto novidade no panorama ambiental e sócio-económico - particularmente no sector turístico - afigura-se como um elemento impulsionador de estratégias até agora nunca reunidas ou pensadas sequer. É esta quebra inovadora na abordagem a um problema antigo, e da surpresa do mercado daí resultante que torna o projecto tão marcante. Entre os seus maiores trunfos contam-se a viabilização de um produto turístico tipo expresso-luso ou até mesmo a reinvenção Sud-Express, a ligar Sintra à Serra da Estrela (na variante de projecto mais extensa) passando por sítios igualmente emblemáticos e estendendo-se depois pelo Reino de Espanha via Salamanca. E o que dizer da possibilidade de aparecer, como que por magia (sem filas de trânsito, stress ou poluição, tudo o que se dispensa afinal!) no coração da Serra da Estrela em pleno vale glaciário! Explorar a Natureza cada vez mais reabilitada; praticar actividades outdoor únicas; aprender ciência nas entranhas da terra; desfrutar de um spa e, passar a noite nas estrelas, para um regresso sem cansaço... E, sem portagens! O dinheiro que se poupa em combustível e desgaste de materiais é assim o que permite pagar umas nano-férias ou tão só, uma visita às origens, bem como um contributo decisivo na redistribuição da riqueza e no estímulo à fixação de populações em áreas isoladas.

A par do valor das paisagens de implantação da obra, como as serras de Arganil, Lousã, Sicó, Alvaiázere, ou as margens dos dois principais rios portugueses – Zêzere e Mondego; ainda as do rio Alva, Ceira, Arunca e Lis entre outros -, destaca-se a elevada qualidade patrimonial das terras ligadas, algumas das quais ganhando definitivamente com este projecto o que perderam em séculos de esquecimento, casos de Belmonte, Penela ou Oliveira do Hospital, não descurando sítios incríveis como Conimbriga.
Estruturas distantes como a Plataforma Logística da Guarda ou o Geopark Naturtejo passam a constituir valências com idêntico potencial de interacção e reciprocidade, situando-se na zona de influência imediata e directa da obra, outras há ainda mais distantes, a confirmar este mutualismo. O Parque do Douro Internacional, a Zona Demarcada do Douro, o património arqueológico único de Foz Côa ficariam na rota de uma via assente e dedicada a património temático ( extensão da ligação Celorico da Beira à linha do Douro), e de uma ambicionada e merecida visibilidade. Viseu e a Região do Dão, Buçaco e Figueira da Foz (cidade e praias) são outras das regiões a beneficiar com o previsível incremento no fluxo de turistas, das Beiras e de Espanha.
Significativo ainda para Trás-os-Montes, onde se considera fundamental para o Desenvolvimento Regional a reactivação da linha até Bragança e dali até ao "ferrocarril español" em Puebla de Sanabria (curiosamente terra gémea de Manteigas, ligadas pela mesma falha geológica), bem como do troço de Miranda do Douro a Zamora (eventualmente por estrada).
Léon é ponto de passagem de uma linha turística importante em Espanha que se estende de Vigo a San Sebastian, elo europeu de natural relevância no aporte deste turismo.

De realçar o reflexo na melhoria das condições de saúde, com a proximidade de uma vasta região interior aos hospitais centrais de Coimbra, ou da capacidade de atrair profissionais em residência permanente. Ainda as ligações ferroviárias aos Parques Industriais são um factor com significativos ganhos económicos e ambientais.

Siga-se esta Estrela peregrina dos caminhos de ferro em Portugal: Guarda – Belmonte –Covilhã – Seia/Gouveia – Oliveira do Hospital – Arganil – Lousã, com acesso a Coimbra ou continuação para Sul por Miranda do Corvo – Penela – Pombal, onde se ligaria à linha do Norte. Com estas ligações a Pombal e Leiria fecha-se o circuito com a linha do Oeste (de incrível beleza mas moribunda aos dias de hoje; e ao TGV caso ocorra), com término na Serra de Sintra e Cascais, que passariam a fornecer turistas a todo o país enquanto portas de excelência que são.

! A ramificação a partir de Porto de Mós por Alcobaça - Aljubarrota - Batalha/Porto de Mós - Fátima - Ourém - (cruzamento com a Linha do Norte) - Alvaiázere - Ansião - Penela/Conimbriga configura um acréscimo notável de recursos patrimoniais e culturais, relativamente ao traçado por Leiria - Pombal.

Esta oferta coloca no mapa um vastíssimo leque de possibilidades de circuitos turisticos nacionais com uma atractividade e potencial de rentabilização ímpar.
Ir para fora cá dentro ou fixar pessoas com efectividade e respeito pelo Ambiente passa incontornavelmente pela restruturação da rede ferroviária.

As ligações ao Douro; a Viseu (via Vimieiro/St.ª Comba Dão); ao Oeste; a Trás-os-Montes, a Nisa, Crato/Portalegre com ligação a Badajoz e a Évora (e ao TGV inaugurando uma dinâmica ferroviária única no território) e ao Algarve (pela primeira vez possível de alcançar por comboio com vantagem face ao automóvel),
são exemplos de extensões e variantes que não comprometendo o projecto inicial - Túnel e linha Serra da Estrela - evidenciam um potencial de interferência muito positivo de infraestruturas e sinergias muito para além de uma solidária estratégia territorial.

A ligação pelo centro do território até à fronteira garante ainda o acesso ao Nordeste de Espanha como contraponto a uma ligação por TGV direcionada a Madrid. Produtos e filosofias diferentes e complementares, caso ainda se insista na alta velocidade.

Dificilmente a construção de uma infraestrutura revela um efeito de alavancagem tão vasto e harmonioso. Consistente na criação de riqueza em combinação com os valores ambientais e no combate às alterações climáticas induz crescimento, acompanhado de significativas reduções de impactes negativos. Racio de excelência que outras soluções, sem excepção, não conseguem alcançar para idênticos objectivos.

Nomeadamente ao nível da construção e/ou remodelação de estradas (em torno do maciço central ou em novos eixos Norte/Sul) há lugar a economia e optimização de recursos, com a dispensa de novos traçados.
A interface com Espanha (crucial) e a ancestral, e eterna promessa, de uma ligação de Bragança ao Algarve pelo interior do país, concretizam-se da melhor forma com uma ligação ferroviária.
Os automóveis poderão ainda assim acompanhar os passageiros em trânsito, mas o seu desincentivo deverá traduzir uma das maiores conquistas deste projecto - a mudança de atitude e a certeza de que, é possível e desejável por vezes viver sem carros, especialmente em áreas naturais. Mas, há carros e carros, e a evolução de motores permite antever algum espaço de manobra também aqui...


criar2009

1 comentário:

  1. Quando quiser e dentro das minhas possibilidades estou pronto a fazer parceria nesse projecto.
    Jorge Rego
    "Caminhos de ferro Vale da Fumaça"

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